Para especialistas, programa de renegociação de dívidas e educação financeira são caminhos para evitar bola de neve
O porcentual de famílias brasileiras endividadas com cartão de crédito atingiu o índice de 87%, um crescimento em relação ao mesmo mês de 2021, quando eram 84,9% de famílias com dívidas no cartão. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e obtida por antecipação pelo E-Investidor.
De acordo com o levantamento, esse tipo de endividamento aumentou em todas as faixas de renda e gênero. Isso ocorre num contexto de crescimento, em 2023, da concessão de crédito no cartão, com um crescimento de 10% nos pagamentos à vista e 28% no parcelado, segundo dados do Banco Central (BC). Os juros dessa modalidade estão num patamar de 445,7% ao ano, em média. São os mais caros entre todas as outras espécies de dívida.
A Peic revelou também que, do total de pessoas com dívidas, 18,1% consideram-se “muito endividadas” em outubro de 2023. No ano passado, eram 17,3%. Do total de consumidores com atrasos, 48,5% estão a mais de 90 dias com a dívida vencida. No ano passado, eram 41,9%. Já 13% das famílias avaliam não ter condições de pagar dívidas atrasadas, índice semelhante ao das pesquisas anteriores.
De acordo com a CNC, o quadro sinaliza que a limitação dos juros e as renegociações de dívidas começaram a ser sentidas pelos consumidores. No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.690/23, que estabelece um teto para a dívida no cartão de crédito do dobro do montante original, caso os bancos não apresentem em 90 dias, a contar da publicação da lei, uma proposta de autorregulamentação.
Essa Lei também cria Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas de pessoas físicas inadimplentes. Alguns setores do mercado financeiro estão a favor de uma regulamentação que mude as atuais regras das compras a prazo. Em agosto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi apontado como defensor do fim do parcelado. Dias depois, ele negou e defendeu a limitação em 12 prestações.
Educação financeira
Para o economista e membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Edval Landulfo, parcelar uma compra no cartão de crédito é um método de pagamento utilizado para as pessoas que não têm condição de fazer compras à vista. “Por isso, para as famílias de baixa renda, é comum a utilização do cartão de crédito no parcelado. E eu acho muito difícil as empresas perderem esse público”, projetou.
É justamente nas famílias de renda baixa que estão o maior percentual de consumidores que têm dívidas atrasadas (37,7%) e que não terão condições de pagar esses débitos (18,1%), de acordo com a Peic. Landulfo avalia que a solução para reduzir o endividamento está em investir em educação financeira.
“Tem que comprar com sabedoria. O cartão de crédito vai ser um facilitador se o consumidor souber anotar as parcelas que pagará lá na frente e colocar as despesas no seu planejamento de gastos”, disse. Outras recomendações do especialista são: não emprestar o cartão de crédito, não atrasar o pagamento da fatura e não fazer compras por impulso.
Já a coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP, Claudia Yoshinaga, alerta que o perigo dessa falta de educação financeira da população com o cartão de crédito é perder a noção de quanto custa o valor total da fatura. Isso acontece quando o consumidor compra por impulso ou não tem noção dos seus gastos. Em épocas de Dia das Crianças (outubro), Black Friday (novembro) e Natal (dezembro), a propensão ao endividamento é maior, na avaliação da especialista.
“Existe esse lado perverso do varejo de querer explorar essas datas comemorativas. As pessoas estão sendo levadas a fazerem compras por impulso, o que depois vai custar muito caro na hora de pagar”, afirmou.
Ainda conforme a especialista, o endividamento deve ser controlado por meio de iniciativas que envolvam a implementação de políticas públicas e ações em conjunto com as instituições privadas, como a discussão para a redução dos juros do rotativo do cartão de crédito e o Desenrola Brasil.
“Iniciativas que vão ter o respaldo do governo são importantes para tentar reduzir o endividamento, além de fixar um limite de quanto se deve cobrar de juros em produtos como o crédito rotativo e promover a educação financeira”, pontuou.
Para participar do Desenrola Brasil, basta acessar a plataforma oficial do programa e utilizar a sua conta Gov.br, no nível Prata ou Ouro. Por lá, devedores podem renegociar dívidas negativadas bancárias e não bancárias — como conta de luz, água, varejo, educação, entre outras.
Leandro Vieira, um dos maiores canais de bancos e cartões do Brasil. Há mais de 6 anos com o Canal Cartões de Crédito Alta Renda no YouTube. Especialista em Bancos, Cartões, Limites, Score, Milhas, Viagens. Tudo que você quiser aprender de graça sem cobrar nada por isso, você aprende aqui em nosso canal. Saiba mais click aqui
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