Black Friday registra vendas em queda pelo segundo ano consecutivo, mostram dados parciais

Balanço parcial da Black Friday de 2023, que reuniu dados até as 12h desta sexta (24), indica que o número de vendas caiu em relação ao ano anterior. Monitoramento feito pela empresa de análise de dados Nielseniq Ebit a partir da 0h de quinta (23) aponta um número de pedidos 16,7% menor do que o registrado em 2022.

Durante a noite de quinta-feira, o fluxo de vendas chegou a crescer 19,8% em relação ao período anterior sob impulso de ações promocionais de varejistas, de acordo com a Nielseniq Ebit. Porém, após as 2h desta sexta, a demanda retomou a tendência de retração.

A empresa divulgará os resultados finais do comércio eletrônico apenas no sábado. No ano passado a Black Friday registrou a primeira queda da história: foi a primeira vez, desde 2010, que o faturamento não cresceu.

Consumidores em Black Friday de supermercado de São Paulo – Nelson Almeida – 23.nov.2023/AFP

Queixas por problemas na entrega lideram

Do ponto de vista do consumidor, demora ou falha na entrega de produtos ficou no topo das queixas do Reclame Aqui e do Procon-SP . Segundo dados parciais divulgados pela plataforma, o atraso é o problema mais recorrente, com cerca de 17% das reclamações desde esta quarta-feira (22). O Procon-SP diz ter sido acionado por 909 consumidores até o fim da tarde desta sexta, a maior parte das reclamações é a respeito de falhas ou a demora (37%). Os outros dos principais problemas relatados foram: maquiagem de desconto (14%); mudança de preço ao finalizar a compra (12,8%); pedido cancelado após finalização da compra (11,4%); produto e/ou serviço entregue diferente do pedido, incompleto e/ou danificado (8,7%).

As denúncias de consumidores incluem compras feitas em períodos anteriores à Black Friday, visto que as promoções começaram ainda em outubro, apesar de a data oficial ser a quarta sexta-feira de novembro. Foram contabilizadas apenas queixas registradas entre esta quinta e sexta.

Os produtos dos setores de informática, como notebooks, os celulares e as televisões são os que têm apresentado a maior quantidade de promoções nesta Black Friday, de acordo com a empresa Promobit. A plataforma identificou 634 ofertas de informática, 458 de tecnologia e celulares e 410 promoções de televisores. Já o setor com o maior desconto é de moda masculina, com 47%, seguido de moda feminina, com 44,33%. Em terceiro fica o de livros, com 42,54%, e jogos, com 42,37%.

O consumidor que foi aos supermercados nesta sexta-feira (24) aproveitou as ofertas da Black Friday para comprar cerveja e carne, e garantir o churrasco do final de semana.

A data não animou como em anos anteriores, e os clientes repetiram o ânimo de 2022, sem fazer compras de forma exagerada. A reportagem da Folha esteve em quatro supermercados na capital paulista e conversou com consumidores, vendedores e gerentes.

Os preços ainda seguem pouco convidativos para o bolso de quem viveu, até 2022, sob o impacto de alta inflação. Mesmo com a queda no índice, o poder de compra ainda não foi retomado. O jeito era aproveitar ofertas em itens básicos.

Mesmo com a predominância das vendas online, há quem não abra mão de uma promoção na loja física. Consumidores disputavam espaço para garantir televisores em promoção no Carrefour Osasco desde as 19h da quinta-feira (23). A visão, para quem vinha da porta de entrada era de filas de pessoas atrás de uma boa oferta em Smart TVs de um sem número de polegadas. A maioria nem sequer cabia dentro do carrinho de compras.

Black Friday acumula R$ 10 milhões em fraudes nas primeiras 18 horas

Houve 6.800 tentativas de fraude entre 0h e 18h desta sexta-feira (24) de Black Friday, levantaram as empresas de análise e gestão de dados ClearSale. Os golpes, somados, representam prejuízo de R$ 10 milhões, uma redução de 41,4% na comparação com o mesmo período no ano passado. O valor médio por tentativa de fraude ficou em R$ 1.611,88, 2,5% a mais que em 2022. Os produtos mais visados foram: ferramentas (2,7%), aéreas (2,5%), bebidas (2,1%), brinquedos (2%) e celulares (1,8%).

O valor médio por tentativa de fraude ficou em R$ 1.611,88, 2,5% a mais que em 2022. Os produtos mais visados por golpistas foram: ferramentas (2,7%), aéreas (2,5%), bebidas (2,1%), brinquedos (2%) e celulares (1,8%).

Empresas de ecommerce esperavam alta nos pedidos

A queda no volume de vendas contraria as projeções de empresas do ecommerce, que esperavam aumento de pedidos.

A ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) projetou uma alta de 17% no faturamento do ecommerce, ajustado pela inflação, durante a semana da Black Friday em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Paralelamente, a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) estima um crescimento real de 4,3% no faturamento do setor em novembro, atribuindo essa perspectiva à desaceleração da inflação e ao início do ciclo de queda de juros este ano.

“Há uma possibilidade de melhora dessa Black Friday em relação aos anos anteriores”, disse Anna Carolina Gouveia, pesquisadora do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getulio Vargas. Mas ela acrescentou que, apesar de algum alívio em inflação e juros neste ano, a incerteza econômica ainda pesa na decisão de compra.

Uma pesquisa da FGV Ibre mostrou que o percentual daqueles que disseram ter certeza de que irão comprar na Black Friday ficou praticamente estável este ano em relação a 2022, em cerca de 10%, enquanto a parcela de pessoas que afirmaram estar dispostas a adquirir produtos, a depender de preço e condição de pagamento, por exemplo, subiu de 14,4% para 21,7%.

Na Shopee, o produto mais comprado nesta Black Friday é a fritadeira elétrica, que ocupou o lugar do tanquinho, líder de vendas na data do ano passado. As altas temperaturas elevaram o ventilador a vice-líder de vendas em 2023, seguido por TV, celular e furadeira. No ano passado, o segundo produto mais vendido tinha sido malas de viagem, e na sequência vieram fritadeira elétrica, celular e videogame.

O ar-condicionado e o ventilador também ganham destaque em meio às altas temperaturas em diversas regiões no país, principalmente no início de novembro. Os produtos estão entre termos mais buscados na plataforma do Mercado Livre, disse a empresa de varejo online, que afirma ter vendido na véspera da Black Friday 4.000 ventiladores em apenas 20 minutos.

“Eventos associados a condições climáticas, como a temperatura, favorecem o crescimento impressionante [na procura] de ventiladores e ar-condicionado”, disse Fernando Baialuna, diretor da área de consultoria na América Latina e de varejo da GfK.

Mas para Rodrigo Bandeira, vice-presidente nacional da ABComm, a tendência é que os descontos nesses produtos “sejam menores”, dada não só a alta procura, mas também os impactos na fabricação e logística em função da estiagem em Manaus, onde está localizado o segundo maior polo fabricante de ar-condicionado do mundo, atrás apenas da China.

ECOMMERCE CAI NO INÍCIO DE NOVEMBRO

Contudo, há indícios de que o comércio eletrônico teve um desempenho mais fraco nas semanas que antecedem a Black Friday, período em que as empresas costumam antecipar promoções.

O Magazine Luiza, que deriva grande parte de suas vendas de produtos eletroeletrônicos, reduziu no terceiro trimestre seu estoque em R$ 500 milhões em relação ao mesmo período de 2022, afirmou o diretor financeiro da companhia na semana passada.

Dados da Neotrust, empresa de pesquisa de mercado especializada em comércio eletrônico, mostraram uma queda no faturamento do segmento de 8,7% ano a ano, sem descontar inflação, em novembro até o dia 22.

Ainda assim, a empresa projeta avanço de 12% no pico da data promocional —de quinta-feira até domingo.

“No Brasil, cada vez faz menos sentido a gente carimbar Black Friday como a última sexta-feira do mês”, disse Fábio Bentes, economista sênior da CNC.

Folha Mercado

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A NielsenIQ Ebit, por sua vez, divulgou recuo nominal de 15,8% no faturamento das empresas nos primeiros 15 dias do mês frente ao mesmo período de 2022, puxado pelas categorias de telefonia, além de casa e decoração.

Os dados são relevantes porque quase 41% dos consumidores que têm a intenção de comprar na Black Friday pretendem utilizar apenas o meio eletrônico para isso, e mais 26,5% planejam usar lojas físicas e virtuais, de acordo com sondagem da FGV Ibre.

Baialuna, da GfK, que pertence ao mesmo grupo da NielsenIQ, apontou a possibilidade de um direcionamento maior dos consumidores para produtos de menor valor à medida que a melhora econômica ainda não foi suficiente para permitir aquisições de bens com preços mais elevados. No entanto, ele ressaltou que a data crucial para avaliação é esta sexta-feira.

Outras fontes, porém, mostram uma tendência contrária para o início de novembro. A adquirente Rede, do Itaú Unibanco, divulgou um avanço de 27% no faturamento nominal do ecommerce nos primeiros 15 dias de novembro. A Linx, empresa de software para varejo da StoneCo, observou avanço de 12% na mesma base de comparação.

Independente do desempenho, Gouveia disse que o final do mês ainda é o principal momento usado para compras, o que torna os próximos dias decisivos para a Black Friday deste ano. “É quando os consumidores estão acompanhando os preços”, disse ela.

Com Reuters


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