O cartão de crédito é o principal meio de endividamento dos brasileiros, que acabam caindo no rotativo – quando há o pagamento do valor mínimo da fatura. Entenda o que fazer para não se enrolar ainda mais.
Quando o orçamento aperta, falta dinheiro ou algo inesperado acontece, pagar o valor mínimo da fatura do cartão de crédito parece ser o único caminho encontrado por muitos brasileiros para segurar as pontas do orçamento. Segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio), 77,7% das famílias estão endividadas. Entre essa parcela, 88,8% afirmam que o cartão de crédito é a principal dívida.
E não importa a renda: as dívidas no cartão têm um peso maior no orçamento dos brasileiros de baixa renda, mas elas também são a principal dor de cabeça daqueles que recebem mais de 10 salários mínimos, segundo a pesquisa.
“Alívio” pode virar um problema
Pagar o mínimo da fatura pode até parecer que alivia o orçamento em determinado mês. O problema, porém, chega depois. Ao pagar o valor mínimo da fatura, são aplicados juros no valor que você deixou de pagar. E esses juros são bem altos. A taxa média do rotativo é de 355% ao ano, segundo dados do Banco Central, de fevereiro de 2022.
Em outras palavras, considerando essa média, se você deixasse de pagar R$ 200 em uma fatura, essa dívida seria de R$ 710 após um ano. Se você deixasse que R$ 1 mil caíssem no rotativo, essa dívida viraria R$ 3.550 no mesmo período. Ou seja, o que parecia uma solução para aliviar as contas em um mês mais apertado, vira dor de cabeça em pouco tempo.
Hoje, de acordo com as regras do BC, não é mais possível rodar essa dívida por um ano, mas ainda assim o rotativo do cartão de crédito não é a melhor opção. Abaixo, entenda melhor esse tipo de dívida e como se livrar dela assim que possível.
Mas o que é o rotativo do cartão de crédito?
O rotativo é uma linha de crédito pré-aprovada. É uma linha de financiamento do cartão de crédito. Ou seja, o limite do seu cartão já é um crédito pré-aprovado disponível para você usar sem complicações por, em média, 30 dias (um ciclo de fatura). É um empréstimo mesmo, por mais que não pareça. Se você pagar a fatura total no vencimento, certinho, não paga juros por usar esse empréstimo. Mas, se pagar apenas uma parte do valor da fatura, a partir do valor mínimo, você entra no rotativo automaticamente.
Funciona assim: sua fatura sempre apresenta o valor mínimo daquele mês. Se você pagar um valor menor que o mínimo, o saldo que ainda faltou pagar é considerado “em atraso”. Na prática, sobre esse saldo serão aplicados juros e multa que serão cobrados na próxima fatura.
Caso você pague o mínimo ou qualquer valor acima desse mínimo, mas que não seja o valor total da fatura, você entra automaticamente no rotativo. É como se você contratasse um novo empréstimo. Sobre o valor que ficou faltando você pagar, vão ser cobrados aqueles juros altos.
Por exemplo: se em janeiro você deixou de pagar R$ 1 mil da sua fatura, veja como fica o valor total da sua fatura de fevereiro:
- R$ 1 mil, acrescidos de juros;
- Mais o valor das suas compras que já viria na sua fatura de fevereiro.
“No rotativo, estamos falando de juros de 20% a 25% por mês. São juros muito altos. Você não consegue isso em um ano inteiro investindo, por exemplo. Como consegue pagar isso por mês? Em um intervalo de quatro meses, você dobra a dívida, porque é juros sobre juros”, alerta Carlos Castro, planejador financeiro da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar). “Pagar o valor mínimo da fatura não é a melhor opção. É totalmente desaconselhado”, reforça.
Rotativo ganhou novas regras em 2017
Até abril de 2017, bancos e instituições financeiras podiam oferecer crédito rotativo ilimitado aos clientes. Ou seja, você podia pagar o valor mínimo da fatura um mês após o outro. O resultado era uma bola de neve de dívidas difícil de resolver. Com isso, o país ganhava uma multidão de super endividados.
Por isso, o Banco Central mudou as regras. Desde 2017, os clientes podem usar o crédito rotativo no máximo por 30 dias. Na prática, você precisa pagar o saldo devedor (o valor que você não pagou na fatura anterior) totalmente até o vencimento da próxima fatura.
Mas e se eu não conseguir pagar o valor total da fatura?
Se você entrou no rotativo, na fatura do próximo mês podem ocorrer três diferentes situações:
1. Você paga o saldo devedor do rotativo da fatura anterior, mas não consegue pagar o total da fatura atual
Quando você entra no rotativo, a sua fatura será composta do saldo devedor mais o valor das suas compras da fatura atual. Se você pagar todo o saldo devedor, mas não pagar o resto da fatura, você entra no rotativo de novo. Para que isso não ocorra novamente, a melhor opção é escolher uma linha de crédito mais barata para você quitar completamente a fatura. Mas é preciso fazer isso antes da data de vencimento.
2. Paga o mínimo da fatura, mas não paga o total do saldo devedor do rotativo
Neste caso, você entra no parcelamento automático. Funciona assim: se o cliente que já estiver no rotativo quiser realizar o pagamento mínimo da próxima fatura, o valor em aberto (crédito que está no rotativo mais o valor em aberto da fatura atual) será automaticamente parcelado em até 18 vezes, dependendo do caso e da instituição, com cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e uma taxa de juros menor que a do rotativo. Dependendo da instituição financeira, também existe a possibilidade de customizar esse parcelamento ou realizar uma renegociação.
De acordo com o Banco Central, a taxa média do parcelado do cartão é de 174% ao ano, considerando os dados de fevereiro de 2022 – praticamente metade dos juros do rotativo. Lembrando que esse parcelamento automático precisa estar previsto no contrato do seu cartão de crédito. Você também pode escolher outra linha de crédito mais vantajosa, mas essa contratação deve acontecer antes da data de vencimento da fatura.
3. Não consegue pagar nem o saldo e nem o mínimo da fatura atual
Essa é a situação que você deve evitar a todo custo, se possível. Quando você não paga nada da sua fatura, ela é considerada “em atraso”. Ou seja, haverá multa, juros e cobrança de IOF. Além disso, normalmente, seu cartão é bloqueado e as instituições financeiras podem colocar o seu nome na lista de negativados.
No Nubank, é possível simular os valores do parcelamento após o fechamento e antes do vencimento da sua fatura, e escolher a parcela que cabe no seu bolso.
Como não cair no rotativo do cartão de crédito?
Parte dessa resposta está nos motivos que levam as pessoas a entrarem no rotativo. Em um país como o Brasil, onde a taxa de desemprego, de juros e de inflação estão altas, é difícil apontar apenas um motivo. Em um mês em que o orçamento está apertado e a renda está menor, as contas básicas acabam sendo priorizadas – isso quando é possível pagá-las.
Mas também há uma parte da população que cai no rotativo por falta de planejamento financeiro e por encarar o limite do cartão como parte da renda e não como uma linha de crédito pré-aprovada.
“Normalmente é isso o que acontece: a pessoa olha aquele crédito e ele vira uma extensão da renda, do salário e é somado ao gasto do mês. O cartão é um meio de pagamento e não é vilão quando bem utilizado”, afirma Carlos Castro.
Segundo o planejador financeiro, em vez de olhar para os benefícios que um cartão oferece para quem usa e paga em dia, em geral, as pessoas olham para o valor do limite, e tendem a querer aumentá-lo, mesmo sem ter renda para bancar essa conta.
Limite não é salário
Por isso, o primeiro passo para não cair no rotativo do cartão é entender que o limite desse meio de pagamento não é parte do seu salário, não é uma renda extra e nem uma reserva de emergência. Ele é apenas um meio de pagamento que facilita a sua organização financeira e te garante benefícios, se bem usado.
“Se eu não tenho um saldo disponível agora na conta, eu posso usar o cartão, mas tenho de me planejar para quitar essa conta quando a fatura chegar. O cartão até te ajuda a se organizar quando você concentra todas as suas compras nele”, explica o especialista.
Quando você concentra seus gastos em um único cartão, consegue entender melhor seu custo de vida, sabe para onde está indo o seu dinheiro, enxerga em quais categorias você gasta mais ou menos e, com isso, consegue fazer ajustes quando necessário. Além disso, essa concentração te permite aproveitar melhor os benefícios do seu cartão de crédito, sejam pontos, cashback ou outros benefícios.
Passo a passo para não cair no rotativo
Se você tem cartão de crédito, tem suas despesas básicas cobertas e percebeu que está próximo de cair no rotativo por desorganização e falta de planejamento, veja o que fazer:
- Não esqueça da data de pagamento da sua fatura: coloque um alerta no calendário ou celular e, se for possível, deixe o pagamento no débito automático.
- Seu limite do cartão não é sua renda: por isso, seus gastos no cartão não devem ultrapassar o seu salário. Se você ganha R$ 2 mil, o valor total de endividamento no mês deve ser de, no máximo, 30% da sua renda, segundo Castro – R$ 600, nesse exemplo, caso você não tenha nenhuma outra dívida, como financiamento ou parcela de empréstimo.
- O cartão de crédito não é sua reserva de emergência: se for possível, tenha uma reserva de emergência para bancar os custos de algo inesperado. Claro que, se você não puder ter acesso imediato ao dinheiro da sua reserva, o cartão de crédito pode ser usado, desde que você retire o dinheiro da reserva depois para pagar esse extra que vai vir na sua fatura.
- Cheque o valor total da compra e não apenas a parcela: um erro comum é olhar apenas a parcela que cabe no orçamento da próxima fatura, ao invés de olhar o valor total da compra e o peso das demais parcelas nas faturas futuras. Em um mês, você faz compras parceladas, sem olhar o valor total. No mês seguinte, você faz novamente, mas esquece que já tem parcelas a vencer de compras anteriores. De parcela em parcela, a fatura começa a somar um valor que pode ultrapassar a sua renda e as chances de você cair no rotativo aumentam.
- Acompanhe de perto a fatura do seu cartão: a cada compra parcelada, verifique no aplicativo do seu cartão o tamanho da sua fatura atual e também das futuras. Mesmo que essa parcela não aumente tanto o valor da sua fatura atual, ela pode ser a diferença entre você conseguir pagar ou não a próxima conta. Fique de olho nos boletos futuros para não se enrolar.
Não consigo pagar o valor total da fatura, e agora?
Se você já sabe que não vai conseguir bancar o valor total da sua fatura, a dica é não esperar a data de vencimento chegar e pensar em alternativas para não ter de pagar o valor mínimo de última hora. A ideia é fugir do rotativo. Veja algumas opções, segundo o planejador financeiro Carlos Castro:
- Parcelamento de fatura: como você viu, a taxa de juros do parcelamento de cartão é praticamente a metade dos juros do rotativo. Aqui, o cuidado é checar se o valor da parcela realmente cabe no seu bolso e lembrar que, se você tiver compras futuras no cartão, vão chegar duas contas na sua fatura do cartão para você pagar: o valor do parcelamento e o valor da fatura atual. Por isso, atenção aos valores.
Por exemplo: se você fizer o parcelamento de uma fatura do mês de janeiro em quatro vezes, cada parcela entrará no valor das faturas dos meses de fevereiro, março, abril e maio. A dica é evitar usar o cartão de crédito enquanto paga esse parcelamento ou, se não for possível fazer isso, redobrar os cuidados ao usar esse meio de pagamento.
- Crédito mais barato: antes da fatura vencer, uma opção é contratar um empréstimo com juros menores do que os cobrados no parcelamento, como é o caso do crédito pessoal ou até mesmo o consignado. Assim, você paga o valor total da sua fatura. A atenção aqui também é no valor contratado e no valor das parcelas, pois assim como no parcelamento de fatura, esse valor vai ser somado nas próximas faturas.
Muita gente “aproveita” que está pegando um empréstimo para contratar um valor maior do que precisaria. Evite isso para não se enrolar nos próximos meses. E atenção aos prazos de pagamento das próximas faturas e das parcelas do empréstimo.
No Nubank, você pode parcelar compras específicas feitas no cartão de crédito, reduzindo o valor total da sua fatura, ganhando mais tempo para pagar suas compras. Veja como fazer.
Troca de dívidas precisa de planejamento
“Esse movimento todo, essas trocas de dívidas, funciona com planejamento. O crédito bom é o crédito que constrói patrimônio. Crédito para financiar consumo não é um crédito bom. Por isso, essas trocas precisam vir com planejamento para não virar uma dívida atrás da outra”, afirma Castro.
Na prática, qualquer empréstimo que você for contratar exige uma avaliação do seu orçamento, equilíbrio das contas e até cortes até o fim do pagamento dessa dívida. Se você pegar um crédito para pagar uma fatura e cair no rotativo na próxima fatura, a dívida só aumenta e seus problemas também. Por isso, se organize para que a soma das dívidas não ultrapasse sua capacidade de pagamento.
É bom lembrar que essas recomendações são para quem tem renda para voltar a se organizar, e não para quem está em situação de vulnerabilidade econômica – ou seja, quem não tem renda nem para o básico.
O que acontece se eu não pagar a fatura do cartão de crédito?
Se você não escolher nenhuma alternativa e deixar de pagar a sua fatura, a situação fica um pouco mais complicada. Em primeiro lugar, essa dívida continua crescendo, sem parar, tornando esse débito cada vez mais difícil de ser pago.
Além disso, segundo a Serasa, o seu nome pode ficar negativado. Em outras palavras, a instituição financeira tem autorização para incluir o seu CPF na lista de inadimplentes.
Na prática, com seu nome nessas listas, dificilmente você consegue contratar empréstimos, financiamentos ou ter algum cartão de crédito novamente. Tudo isso sem contar no impacto dessa dívida no seu score de crédito. Mesmo depois de pagar essa dívida, seu score fica prejudicado por um tempo.
Score é um indicador do seu perfil financeiro e pode ser consultado por empresas e bancos. Ele é uma pontuação entre 0 e 1 mil que indica a probabilidade de alguém atrasar ou não o pagamento de uma conta. Essa pontuação é considerada por instituições financeiras e empresas antes de concederem crédito – seja ele através de um cartão, empréstimo ou financiamento.
Quanto mais próxima a pontuação estiver de 1 mil, melhor é o perfil financeiro da pessoa e, portanto, maiores as chances de ter um pedido de crédito aprovado. Por outro lado, quanto menor a pontuação, maiores as chances de ela atrasar uma conta – e, portanto, de ter um pedido de crédito negado.
Resumindo: o seu cartão de crédito é uma ferramenta que pode te trazer benefícios se bem usado, mas pode complicar a sua vida financeira se usá-lo sem planejamento.
Com informações NUBANK
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